Sitges prestou homenagem a um dos mais criativos cineastas do fantástico e responsável pela afirmação do cinema de Hong Kong como uma das cinematografias mais inovadoras das últimas décadas.
E o que tinha de especial o cinema made in Hong Kong que nos anos 80 surpreendeu a Europa e conquistou as graças dos adeptos do fantástico? Uma mistura desconcertante de artes marciais, lendário e magia oriental, e um gosto por um cinema de evasão que envolvia o espectador num universo de fantasia. Depois de ter esgotado o cinema de artes marciais, e quando todos auguravam que o filão estava exausto, o fantástico mais que o terror fez o sucesso e a riqueza dos estúdios de Hong Kong. Com uma máquina bem oleada a nível técnico, experientes e meticulosos especialistas de efeitos especiais, e carismáticos realizadores, inundaram a Europa com obras-primas a trilogia “Chinese Ghost Story” a que nenhum fã do cinema de imaginário foi capaz de resistir. O Fantasporto foi o festival que em Portugal descobriu e premiou Ching Siu-Tung. Com uma filmografia vasta e significativa - “Hero” - que o torna o incontestado chefe de fila dos cineastas de Hong Kong, Ching Siu-Tung demonstrou que é possível a independência de um estilo cinematográfico no apertado sistema chinês. Também aqui o slogan “uma China dois sistemas” poderia ser parafraseado em “uma China, dois cinemas”.
Presente em Sitges para ser homenageado com a prestigiada Máquina do Tempo Ching Siu-Tung apresentou o seu mais recente filme, “The Sorcerer and the White Snake”, mais uma incursão nos temas da rica mitologia popular chinesa onde o deslumbramento das paisagens naturais se mescla com a espectacularidade dos FX. Mais ocidentalizado que o habitual, sobretudo a nível da banda sonora onde incorpora temas da música clássica europeia, “The Sorcerer and the White Snake” constituiu uma notável confirmação de que o cinema é a grande ilusão. Não admira que o público se tenha rendido a esta bizarra história de amor impossível e tenha saído da sala entusiasmado.
Duas histórias desenrolam-se em simultâneo. De um lado o mestre do templo – feiticeiro - e um seu discípulo andam à caça de demónios. Do outro duas serpentes irmãs – uma verde e uma branca - afugentam um herbalista da montanha. Com as voltas que o mundo dá vão-se cruzar na cidade. Uma convivência pacífica com benefícios para todos vai acabar num confronto em larga escala.
É um filme de artes marciais com Jet Li no papel principal. As belas Charlene Choi e Shengyi Huang são as serpentes e Raymond Lam o herbalista. Li diz que o maior problema na rodagem foi que, por só lutar contra mulheres, tinha de controlar a sua força, enquanto as adversárias não tinham qualquer piedade dele. De referir que todas essas mulheres além de fortes são deslumbrantes.
Quanto à fotografia quem viu “Hero” pode ficar desiludido, mas supera a nível visual (e de efeitos visuais) praticamente tudo o que vindo a ser feito. Para terem uma ideia começa com um combate na neve onde Jet Li está vestido de branco e não há nada de errado com isso. A fotografia está estupenda. Alguns efeitos parecem baratos, mas é tudo imponente e de deixar qualquer um estupefacto. Vejam no maior ecrã possível porque é a única forma de ver.
Como desfecho é preciso dizer que é também uma história de amor com muitos clichés e lamechice. Demasiado suave para um filme de luta? Talvez, mas gera também um estranho equilíbrio entre força e delicadeza. Como um bombom oco com tão bom chocolate no exterior que nem nos importamos com o facto de ser oco.
Título Original: "The Sorcerer and the White Snake" (China, Hong Kong, 2011) Realização: Siu-Tung Ching Argumento: Siu-Tung Ching Intérpretes: Jet Li, Charlene Choi, Raymond Lam, Shengyi Huang Música: Mark Lui Fotografia: Kwok-Man Keung Género: Acção, Fantasia Duração: 99 min. |
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