10 de junho de 2011

"Hollywood Ending" por Nuno Reis

Val: You know, I would kill for this job, but the people I want to kill are the people offering me the job.

Se estivessem a produzir um filme sobre Nova Iorque que realizador escolheriam? Woody Allen é um nome que todos considerariam porque não consegue fazer um filme nessa localização sem que se perca nos encantos da metrópole. É isso mesmo que pensa Ellie (Téa Leoni) que propõe para realizar um filme passado em Nova Iorque o seu ex-marido Val (Allen), um outrora brilhante e oscarizado realizador que actualmente faz anúncios de desodorizante no Canadá. Val não tem condições para recusar e vai ter de aceitar. Consegue ter algum controlo e inclusivamente ter a namorada (Debra Messing) no filme, mas na véspera das filmagens fica cego. Continua a não poder recusar, e terá de alguma forma manter o segredo longe da vista dos outros. Para começar recorre ao intérprete do director de fotografia chinês, depois “verá” o que fazer. Conseguirá fazer algo? Conseguirá enganar ambas as mulheres da sua vida?
Hollywood Ending

Voltando ao tema do título escolhido, “Hollywood Ending” é quase o filme de despedida do cinema americano. Para além da capa revela um descontentamento com o cinema da Costa Oeste e acusa-os de tentarem controlar tudo à distância. Este foi um filme muito autobiográfico para Allen. “Vallen” é o homem que sabe filmar Nova Iorque. Era um grande realizador que nesta altura muito dariam como perdido. Tinha acabado de fazer três filmes com fotografia do chinês Fei Zhao. Também ele corre o risco de se cruzar com a ex-mulher no mundo do cinema. A jornalista abelhuda é provavelmente uma indirecta para algum produtor que tenha autorizado uma repórter a assistir às filmagens com prejuízo do filme. A forma como Val fala do filho (estrela musical que come ratos em palco) seguramente estará relacionada com o facto de o filho biológico de Allen se recusar a vê-lo. E os momentos terminais (não especifico para evitar spoilers) pelo menos em parte tornaram-se realidade para Allen.
Hollywood Ending

Os diálogos são rápidos e eficazes como é habitual. Não tão hilariantes como em filmes anteriores, mas ainda acima da média. O chinês é desconcertante por não se compreender o que diz (faz recordar a situação de Bill Murray no brilhante "Lost in Translation") e o filho quebra um pouco com a rotina em que entraram os filmes de Allen. É um filme que ganha outro sabor quando se percebe o que se passa na cabeça do cineasta. Sem isso é um trabalho mediano com uma situação improvável e muita comicidade relativa, pois a única coisa nova é mesmo a cegueira de um realizador e extrair humor de uma única situação durante uma hora é quase impossível. Ficou muito aquém do esperado.


Nota: Mais uma vez os brasileiros foram particularmente felizes com a tradução para "Dirigindo no Escuro". Espero pelo dia em que possa dizer o mesmo das nossas.

Hollywood EndingTítulo Original: "Hollywood Ending" (EUA, 2002)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Woody Allen, Téa Leoni, Debra Messing, Mark Rydell, Treat Williams, George Hamilton
Música:
Fotografia: Wedigo von Schultzendorff
Género: Comédia, Romance
Duração: 112 min.
Sítio Oficial: http://www.dreamworks.com/hollywoodending/

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