15 de junho de 2011

"Vicky Cristina Barcelona" por Nuno Reis

Barcelona é aquela cidade de que é difícil não gostar. Toda a sua história, cultura, arte, beleza e mesmo aspirações autonómicas fazem com que seja um farol no meio de um continente que teima em viver no passado. Não admira que tenha uma das canções jamais dedicadas a uma cidade. Faltava-lhe ainda o filme de referência e para isso lá estava Woody Allen, já farto de Inglaterra, mas sempre encantado com a Europa.
Vicky Cristina Barcelona

Vicky e Cristina são duas amigas completamente opostas. Enquanto Vicky está noiva e visita Barcelona para aprofundar conhecimento, útil para o mestrado em cultura catalã, Cristina vai apenas para espairecer e se divertir. Aqueles dois meses de Verão depressa se transformam numa aventura quando um sedutor pintor as convida para um fim-de-semana em Oviedo de sexo a três.
Vicky Cristina Barcelona

Além de ser a musa do momento do cineasta, Johansson é Allen. Artista incompreendida e frustrada, apaixonada pela Europa e revoltada contra a “cultura puritana e materialista da América”, divide-se entre cinema, poesia, fotografia. Até tem uma úlcera para que não passe despercebido a ninguém qual o papel que desempenha nesta estória. Mas ela pouco importa porque como Vicky temos Rebecca Hall. A “desconhecida” em quem Allen apostou para este filme já tinha trabalhado com Johansson em “The Prestige” onde fazia de esposa de Christian Bale. Faltava-lhe um filme onde as mulheres pudessem brilhar e aqui conseguiu-o. A nomeação para Golden Globe prova que aqui nasceu uma estrela. Mas este filme estava destinado a consagrar outra pessoa. Um ano depois do Oscar para Bardem o mundo aguardava por outra estrela espanhola que se juntasse a Garci, Trueba, Almodóvar e Amenábar. Penélope Cruz chega a meio do filme e faz tudo como mandava a receita para levar o Oscar, mas Rebecca Hall continua a ser a estrela. Ressalvo que um dos pontos altos do filme é a forma expressiva como os dois actores europeus conseguem intercalar os idiomas.

Vicky Cristina Barcelona

A história original foi feita para San Francisco e guardada numa gaveta, apenas a proposta de financiamento catalão, 10% do filme, levou Allen a filmar lá o argumento mais portátil que tinha pronto (a referência a Oviedo é por a cidade ter uma estátua em tamanho real do cineasta). O maior problema disso é que a Barcelona percorrida é a dos turistas. Falta aquele toque pessoal que um argumentista e um guia separados não conseguem. Faltou pensar o filme sentindo a cidade, sendo Barcelonés. Claro que como sempre a música é fenomenal e basta começar com aqueles acordes inesquecíveis para que fiquemos rendidos à cultura catalã, mas nem isso chega para fazer um filme acima da média.
Contudo para muita gente mais importante do que o filme é a moral que o percorre, lição dada por quem já muito viveu e se considera uma autoridade em amor: mais vale arrepender do que se fez, do que arrepender que não se fez. E por isso é um filme que se deve ver pelo menos uma vez, de preferência quando se pensa estar apaixonado.


Vicky Cristina BarcelonaTítulo Original: "Vicky Cristina Barcelona" (Espanha, EUA, 2008)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Javier Bardem, Penelope Cruz, Patricia Clarkson
Fotografia: Javier Aguirresarobe
Género: Drama, Romance
Duração: 96 min.
Sítio Oficial: http://www.vickycristina-movie.com/

2 comentários:

DiogoF. disse...

Gostando eu bastante deste filme (coisa rara, parece-me) e louvando a prestação dos quatro actores (muito especialmente, como salientas, das mulheres), sendo eu um gigante fã da Scarlett e da Penélope (as minhas duas musas) e tendo gostado muito da Hall ... acho que a Penélope é que roubou o espectáculo todo.

Nuno disse...

A Scarlett era o Woody de serviço. A Penelope não pareceu particularmente inspirada, estava muito bem, mas não melhor do que o habitual. A Rebecca tem um je ne sais quoi que dificilmente diria mal dela.