10 de dezembro de 2010

"Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1" por Nuno Reis

Estava a sentir a falta de Harry Potter. Talvez já tenha dito que li o primeiro livro ainda antes de aquilo ser famoso. E quando se tornou moda, continuei a ler, por vezes no mês do lançamento, mas nunca com aqueles extremismos dos fãs que lêem no primeiro dia. Com o meu envelhecimento o meu fanatismo ficou apenas a um nível suficiente para ler o livro de uma só vez. Quanto aos filmes vi um em visionamento de imprensa, um no dia de estreia e todos os outros quando calhou. Até que estreou o "Deathly Hallows: Part I" e me apercebi que estava há três anos sem Potter. Tinha deixado escapar o último filme e ainda nem sequer tinha lido o livro agora adaptado. Fui por isso com uma ideia perfeitamente clara das personagens e da situação, mas sem saber com o que contar.

É o confronto final, Hogwarts já não é o local mais seguro do mundo, o Ministério da Magia vai cair para o lado das trevas e o destino dos feiticeiros e muggles está nos ombros daquele que sobreviveu. Mas ele não está só. Tem como aliados todos os amigos que fez ao longo dos anos. Pelo menos os que sobreviveram à amizade... Neste combate final vai precisar de Hagrid, Mad-Eye Moody, Lupin, Tonks, todos os Weasley, Hermione, a escola de Beauxbatôns, os elfos domésticos, até Luna Lovegood! E para os ajudar vão ter algumas dádivas de Dumbledore que inclusivamente confia em Harry para, em nome do Bem, erguer a espada de Gryffindor e destruir Voldemort. De uma vez ou aos bocados.

Dar um desfecho a algo que se esticou por seis filmes não é fácil. O livro enorme foi dividido em dois filmes para maximizar o lucro e porque uma crítica recorrente era o filme ser tão resumido que exigia que se conhecesse o livro. Apesar disso, mais do que uma peça de algo maior, este filme na realidade parece um conjunto de retalhos. Primeiro as personagens sozinhas com os seus pensamentos, preparando-se mentalmente para uma viagem sem retorno. Depois subitamente estão todos juntos e partem numa viagem alucinante com perseguições e explosões na auto-estrada. Depois uma festa. Depois morte. Depois a solidão dos nossos três principais heróis como que perdidos num mundo pós-apocalíptico. Alguns momentos mais no meio de gente, mais uns momentos a sós, de vez em quando um belo susto ou uma história em animação, momentos para compensar a seca que está a ser o resto. Até que aparece Dobby e o filme ganha novo encanto. E quando tudo faz sentido e pode começar a aventura, o duelo imortal... não percam o próximo episódio!

A nível visual é apelativo (belo trabalho de Eduardo Serra), mas a narrativa é quase sempre insatisfatória e o filme parece experimentar técnicas de vários géneros cinematográficos sem dar primazia ao fantástico que é a razão de tal história existir e de haver gente na sala para o ver. Não estou a gostar dos Potter de David Yates, mas irei ver a conclusão porque é o destino do mundo que está em jogo. Porque tenho de saber como acaba. Porque é suposto o filme ser um Harry Potter e esta Parte 1 não o foi.

Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1Título Original: "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1" (EUA, Reino Unido, 2010)
Realização: David Yates
Argumento: Steve Kloves (baseado no livro de J.K.Rowling)
Intérpretes: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Michael Gambon
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Eduardo Serra
Género: Acção, Aventura, Fantasia, Mistério
Duração: 146 min.
Sítio Oficial: http://harrypotter.warnerbros.com/harrypotterandthedeathlyhallows

4 comentários:

Loot disse...

Acho que depois do Potter 5 muita gente deve ter-se esquecido destes filmes.

Comigo pelo menos também aconteceu isso. Agora coma febre que tem sido este lá fui eu ver o 6 para poder ver a 1º parte do 7.

E concordo contigo. Tem bons momentos sem dúvida, mas no geral não satisfaz, esperava mais. Esperemos que a 2º parte cumpra.

Ainda assim David Yates está melhor do que no 5º talvez o pior filme da saga.

Nuno disse...

Exactamente a minha situação. O quinto foi tão bom que nem fui ao sexto...

Acho que quem leu os livros vai com demasiadas expectativas, mas também ficam mais satisfeitos a cada cena recriada.

DiogoF. disse...

Gostei da crítica. No entanto, discordo - acho que mesmo o melhor da saga, com uma atmosfera fantástica e com um argumento bastante menos mau do que os outros. Achei também que foi o filme que melhor desenvolveu a psicologia das personagens.

Abraço.

Nuno disse...

Tendo o dobro da duração tinha a obrigação de desenvolver tudo melhor, argumento e personagens incluidos.
A história não cativa metade do tempo e quando começa a melhorar cortam...