Um canadiano, duas inglesas, um americano, um escocês e uma irlandesa... não, o que vem aí não é uma anedota. É apenas o elenco principal de um filme que é uma autêntica salada russa. "The Last Station" chega a nós um ano depois da estreia mundial, depois de ser nomeado para dois Oscares e dois Golden Globes e de convencer a crítica um pouco por todo o mundo. Com o público não teve igual sorte, os romances russos são demasiado trágicos para serem cativantes.
Leo Tolstoi é um nome conhecido por todos. "Guerra e Paz" é o título que o celebrizou, apesar de "Ivan Ilitch" e "Anna Karenina" entre outros também terem conseguido um lugar na história da literatura. O ideial é ir ver o filme sabendo como se vivia na Rússia dessa época e quem era Tolstoi para os compatriotas. De forma resumida Tolstoi, tal como o livro que escreveu, teve a sua vida dividida entre guerras e paz. As guerras foram com o governo que o perseguia, a igreja que o expulsou, a própria esposa com quem brigava recorrentemente... A paz foi com o mundo a quem tentou ensinar a viver de forma pacífica, dando educação e comida a todos os que o rodeavam, em sentimentos profundos que combinavam ateísmo, amor e algo que roçava o anarquismo.
Às portas da morte aquele que era um ídolo para toda o mundo e o herói pacifista da nação, teve de lidar com a velha questão do testamento. Enquanto a mulher Sofya exigia que os direitos das obras ficassem com a família, Chetkov, líder do movimento tolstoiano, dizia que pertenciam ao povo para que a palavra pudesse ser divulgada livremente. Valentin Bulgakov vê-se preso entre as três frentes pois é contratado para secretário do seu herói Tolstoi, é espião ao serviço de Chetkov contra Sofya e ao serviço de Sofya contra Chetkov. As coisas ainda ficam mais complicadas quando descobre que poucos tolstoianos são realmente tolstoianos, ele próprio fica descrente de alguns dos princípios, e nem Tolstoi concorda com o diz para os outros fazerem.
Ao bom gosto das tragédias russas temos aqui o nosso herói dividido entre duas escolhas e sem saber qual é a correcta. A narrativa que se estende por quase duas horas consegue mostrar ambos os lados da questão e tanto Sofya como Chetkov podem ser encarados como tendo a razão do seu lado ou sendo o inimigo a calar. As outras pessoas que giram em torno do escritor - filhos, médico, amigos - tomam posições em alguma facção restando apenas Valentin como elemento neutro para tentar unir as pontas, para que Tolstoi complete o seu trabalho e consiga viver e morrer em paz.
Um dos detalhes mais curiosos é a presença constante de paparazzis em torno do escritor. Onde quer que ele fosse ou as pessoas das suas relações, todos os movimentos ficavam gravados em película de fotografia e cinema. E já há cem anos atrás eram chatos, abusadores e nada respeitosos.
É uma potente apresentação de uma parte esquecida da vida de alguém inesquecível. Grande reconstituição histórica, não se foca apenas nos cenários ou guarda-roupa, sendo também fiel em espírito. Estaria perfeita se não fossem os diálogos em inglês a destoar do cenário... Fala-se em inglês porque, como digo no início, foi reunido um elenco multi-cultural (e magnífico). Se Christopher Plummer e Helen Mirren foram ambos nomeados para Globe e Oscar, pior não estão James McEvoy, Paul Giamatti, Anne-Marie Duff ou Kerry Condon. Contudo não podiam estar todos nomeados e a classe trazida com a idade teve primazia. MIrren nomeada como a actriz principal que é, o filme é todo dela. Plummer mais uma vez um brilhante secundário, como em toda a carreira e especialmente nos últimos temos (também foi um fantástico Dr. Parnassus).
O filme cumpre a missão de nos apresentar um homem para além da sua obra e de nos fazer pensar nas coisas simples. A vida é demasiado curta para a passarmos a discutir com quem nos ama.
Leo Tolstoi é um nome conhecido por todos. "Guerra e Paz" é o título que o celebrizou, apesar de "Ivan Ilitch" e "Anna Karenina" entre outros também terem conseguido um lugar na história da literatura. O ideial é ir ver o filme sabendo como se vivia na Rússia dessa época e quem era Tolstoi para os compatriotas. De forma resumida Tolstoi, tal como o livro que escreveu, teve a sua vida dividida entre guerras e paz. As guerras foram com o governo que o perseguia, a igreja que o expulsou, a própria esposa com quem brigava recorrentemente... A paz foi com o mundo a quem tentou ensinar a viver de forma pacífica, dando educação e comida a todos os que o rodeavam, em sentimentos profundos que combinavam ateísmo, amor e algo que roçava o anarquismo.
Às portas da morte aquele que era um ídolo para toda o mundo e o herói pacifista da nação, teve de lidar com a velha questão do testamento. Enquanto a mulher Sofya exigia que os direitos das obras ficassem com a família, Chetkov, líder do movimento tolstoiano, dizia que pertenciam ao povo para que a palavra pudesse ser divulgada livremente. Valentin Bulgakov vê-se preso entre as três frentes pois é contratado para secretário do seu herói Tolstoi, é espião ao serviço de Chetkov contra Sofya e ao serviço de Sofya contra Chetkov. As coisas ainda ficam mais complicadas quando descobre que poucos tolstoianos são realmente tolstoianos, ele próprio fica descrente de alguns dos princípios, e nem Tolstoi concorda com o diz para os outros fazerem.
Ao bom gosto das tragédias russas temos aqui o nosso herói dividido entre duas escolhas e sem saber qual é a correcta. A narrativa que se estende por quase duas horas consegue mostrar ambos os lados da questão e tanto Sofya como Chetkov podem ser encarados como tendo a razão do seu lado ou sendo o inimigo a calar. As outras pessoas que giram em torno do escritor - filhos, médico, amigos - tomam posições em alguma facção restando apenas Valentin como elemento neutro para tentar unir as pontas, para que Tolstoi complete o seu trabalho e consiga viver e morrer em paz.
Um dos detalhes mais curiosos é a presença constante de paparazzis em torno do escritor. Onde quer que ele fosse ou as pessoas das suas relações, todos os movimentos ficavam gravados em película de fotografia e cinema. E já há cem anos atrás eram chatos, abusadores e nada respeitosos.
É uma potente apresentação de uma parte esquecida da vida de alguém inesquecível. Grande reconstituição histórica, não se foca apenas nos cenários ou guarda-roupa, sendo também fiel em espírito. Estaria perfeita se não fossem os diálogos em inglês a destoar do cenário... Fala-se em inglês porque, como digo no início, foi reunido um elenco multi-cultural (e magnífico). Se Christopher Plummer e Helen Mirren foram ambos nomeados para Globe e Oscar, pior não estão James McEvoy, Paul Giamatti, Anne-Marie Duff ou Kerry Condon. Contudo não podiam estar todos nomeados e a classe trazida com a idade teve primazia. MIrren nomeada como a actriz principal que é, o filme é todo dela. Plummer mais uma vez um brilhante secundário, como em toda a carreira e especialmente nos últimos temos (também foi um fantástico Dr. Parnassus).
O filme cumpre a missão de nos apresentar um homem para além da sua obra e de nos fazer pensar nas coisas simples. A vida é demasiado curta para a passarmos a discutir com quem nos ama.
Título Original: "The Last Station" (Alemanha, Reino Unido, Rússia, 2010) Realização: Michael Hoffman Argumento: Michael Hoffman (baseado no livro de Jay Parini) Intérpretes: Helen mirren James McAvoy, Christopher Plummer, Paul Giamatti, Kerry Condon, Anne-Marie Duff Música: Sergei Yevtushenko Fotografia: Sebastian Edschmid Género: Biografia, Drama, Histírico Duração: 112 min. Sítio Oficial: http://www.sonyclassics.com/thelaststation/ |
0 comentários:
Enviar um comentário