Memória de uma época dourada do cinema italiano
Em "Io Sono l'Amore" não temos um mero filme, temos toda a nostalgia de uma cinematografia que perde fulgor a cada ano que passa. Os tempos áureos do cinema italiano são coisa do passado e raramente aparece um título de grande destaque. "Io Sono l'Amore" tem sido tratado como o grande filme italiano, é mais correcto considera apenas como aquele que recorda os grandes filmes italianos.
Os Recchi são uma família que enriqueceu com os têxteis na segunda metade do século XX. Quando o patriarca decide deixar a fábrica ao filho Tancredi e reformar-se, deixa também indicações específicas sobre o que desejava: a fábrica e as pessoas que lá trabalham são a riqueza da família e assim devem continuar. Os seus descendentes sempre viveram com luxo e assim continuarão. Mas o excesso de dinheiro tem as suas consequências. A começar por Emma, a esposa de Tancredi, que vive aborrecida num palácio-prisão onde tem como única distracção a organização de jantares. Ou Betta, filha dela, que é quase uma estranha por estudar fora. Nesta família o único que escapa à superficialidade é Edoardo Júnior, jovem atleta e respeitador dos ideais do avô. Enquanto tenta começar a sua vida pessoal (com Eva) e profissional (na empresa familiar, ajudando Antonio a abrir um restaurante) nota-se que é mais do que um miúdo novo-rico mimado, a bondade faz parte da sua forma de ser.
A realização é ousada e não obedece a regras óbvias, a tentação de comparar a Visconti é enorme. A isso combinam-se os cenários e a fotografia que sugerem um filme mais velho do que realmente é. O resultado é que a primeira hora, movendo-se nos meandros da alta burguesia de Milão, é simplesmente adaptação. Lentamente o foco foge de Edoardo e centra-se em Emma que esteve sempre lá. É esta russa perdida em Itália que torna um filminho artístico numa experiência cinematográfica. Ela é Tilda Swinton que para o papel aprendeu russo e italiano que fala como primeira e segunda língua respectivamente. Como os diálogos soam a artificiais em todos os actores não se notam falhas particulares dela. E faz um trabalho fenomenal em expressões faciais, especialmente deliciosas quando se mostra desorientada a meio de uma conversa em inglês.
Destacaria ainda a participação de Marisa Berenson ("Barry Lyndon", "Cabaret") como outra estrangeira arrastada pelos Recchi para uma vida de luxo em Itália. A direcção de actores é um dos pontos fortes do filme. Funcionam como família ou como indivíduos de acordo com as necessidades do momento.
É um filme que exige do espectador. Ao contrário das produções comerciais vindas de outros sítios não nos é dado tudo mastigado. Para ver é precisa atenção, para apreciar os detalhes cénicos, e para estar preparado para avanços narrativos imparáveis. Infelizmente isso só é feito demasiado tarde tornando os últimos vinte minutos incríveis e deixando o resto com uma beleza quase inútil. O filme no seu todo resulta, tem muitos momentos de enorme qualidade que enriquecem um argumento potencialmente banal.
Em "Io Sono l'Amore" não temos um mero filme, temos toda a nostalgia de uma cinematografia que perde fulgor a cada ano que passa. Os tempos áureos do cinema italiano são coisa do passado e raramente aparece um título de grande destaque. "Io Sono l'Amore" tem sido tratado como o grande filme italiano, é mais correcto considera apenas como aquele que recorda os grandes filmes italianos.
Os Recchi são uma família que enriqueceu com os têxteis na segunda metade do século XX. Quando o patriarca decide deixar a fábrica ao filho Tancredi e reformar-se, deixa também indicações específicas sobre o que desejava: a fábrica e as pessoas que lá trabalham são a riqueza da família e assim devem continuar. Os seus descendentes sempre viveram com luxo e assim continuarão. Mas o excesso de dinheiro tem as suas consequências. A começar por Emma, a esposa de Tancredi, que vive aborrecida num palácio-prisão onde tem como única distracção a organização de jantares. Ou Betta, filha dela, que é quase uma estranha por estudar fora. Nesta família o único que escapa à superficialidade é Edoardo Júnior, jovem atleta e respeitador dos ideais do avô. Enquanto tenta começar a sua vida pessoal (com Eva) e profissional (na empresa familiar, ajudando Antonio a abrir um restaurante) nota-se que é mais do que um miúdo novo-rico mimado, a bondade faz parte da sua forma de ser.
A realização é ousada e não obedece a regras óbvias, a tentação de comparar a Visconti é enorme. A isso combinam-se os cenários e a fotografia que sugerem um filme mais velho do que realmente é. O resultado é que a primeira hora, movendo-se nos meandros da alta burguesia de Milão, é simplesmente adaptação. Lentamente o foco foge de Edoardo e centra-se em Emma que esteve sempre lá. É esta russa perdida em Itália que torna um filminho artístico numa experiência cinematográfica. Ela é Tilda Swinton que para o papel aprendeu russo e italiano que fala como primeira e segunda língua respectivamente. Como os diálogos soam a artificiais em todos os actores não se notam falhas particulares dela. E faz um trabalho fenomenal em expressões faciais, especialmente deliciosas quando se mostra desorientada a meio de uma conversa em inglês.
Destacaria ainda a participação de Marisa Berenson ("Barry Lyndon", "Cabaret") como outra estrangeira arrastada pelos Recchi para uma vida de luxo em Itália. A direcção de actores é um dos pontos fortes do filme. Funcionam como família ou como indivíduos de acordo com as necessidades do momento.
É um filme que exige do espectador. Ao contrário das produções comerciais vindas de outros sítios não nos é dado tudo mastigado. Para ver é precisa atenção, para apreciar os detalhes cénicos, e para estar preparado para avanços narrativos imparáveis. Infelizmente isso só é feito demasiado tarde tornando os últimos vinte minutos incríveis e deixando o resto com uma beleza quase inútil. O filme no seu todo resulta, tem muitos momentos de enorme qualidade que enriquecem um argumento potencialmente banal.
Título Original: "Io Sono l'Amore" (Itália, 2009) Realização: Luca Guadagnino Argumento: Luca Guadagnino Intérpretes: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini, Marisa Berenson Música: John Adams Fotografia: Yorick Le Saux Género: Drama, Romance Duração: 120 min. Sítio Oficial: http://www.iamlovemovie.com/ |
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