11 de dezembro de 2010

"The Kids Are All Right" por Nuno Reis

O tema é quase recorrente. Um casal de meia-idade que caiu na rotina e começa a ter problemas de comunicação, dois filhos adolescentes, um homem desconhecido que simboliza liberdade e aventura... Nic é o "homem" da casa e por ser o único sustento da família assume uma posição dominante posta em causa pelo alcoolismo. Jules está a começar agora um negócio de arquitectura paisagistica, mas não tem grande apoio emocional por parte de Nic. A complicar ainda mais a situação a filha mais velha vai sair de casa para a universidade e o filho de quinze anos anda com más companhias. A principal diferença entre esta e outras histórias é que o casal principal é lésbico e o tal desconhecido é na verdade o pai por inseminação de ambos os jovens.
Está dado o pontapé de saída para uma comédia romãntica pouco convencional sobre as famílias dos tempo modernos. Fala de infidelidade, adolescência e de família, mas também de homossexualidade e inseminação artificial, de direitos e deveres dos "pais de aluguer" e de vários tipos de laços afectivos.

A escrita deste filme foi feita pelas mãos de Stuart Blumberg, autor da comédia sobre a indústria pornográfica "The Girl Next Door", e por Lisa Cholodenko, autora/realizadora de "Laurel Canyon" e realizadora convidada na série "The L Word". Pelo currículo percebe-se que o sexo não é tabu para nenhum deles e aqui comprovam-no. Falam de forma aberta das relações homo ou heterossexuais, de relações conjugais ou affairs, de fantasias de adolescentes e de adultos que se portam como adoelscentes. Por entre a poémica que isso possa causar, está um filme profundo sobre a vida onde as personagens usadas são apenas uma parte mínima de uma história tão velha como a civilização que conhecemos.
Personagens essas que servem de veículo promocional, e premiável, de um incrível lote de actores. Em primeiro lugar destacaria Mark Ruffalo, num dos papéis mais sólidos e convincentes que já nos trouxe. É um motoqueiro sem responsabilidades e adepto de sexo casual, até descobrir que tem dois filhos e tenta servir de exemplo masculino acabando por perceber o que realmente pretende da vida. Os filhos interpretados por Mia Wasikowska e Josh Hutcherson são por muito tempo o fio condutor do filme e estão fenomenais. Ela com um ar muito mais inocente do que como Alice, e com mais tempo de tela do que em "Rogue" ou "Defiance" teve finalmente uma oportunidade de exibir o seu talento potencial, numa óptima publicidade para o aguardado "Jane Eyre". Ele depois de vários papéis infantis ("Bridge to Terabithia", "Zathura", "Winged Creatures") tem aqui uma personagem complexa que exigiu bastante trabalho e com bons momentos a solo. Já as mulheres dispensam apresentação. Annette Bening e Julianne Moore são duas senhoras do cinema que a cada filme feito se arriscam a ser oscarizadas e aqui estão mais uma vez em grande. Se no início o lesbianismo lhes parece pouco natural, muito estereotipado, com o desenrolar da história ficam credíveis e confortáveis nos papéis merecendo inclusivamente aplausos ao terminar (não os ouvi, mas apeteceu-me começá-los).

É um filme que agrada do início ao fim e que faz pensar por muito tempo. Ora quantos conseguem satisfazer durante e depois? Talvez este ano seja ignorado nos prémios (desde o Teddy em Berlim que não é reconhecido com nenhum título de relevo), mas em retrospectiva vai aparecer em diversas listas de melhores da década.

The Kids Are All RightTítulo Original: "The Kids Are All Right" (EUA, 2010)
Realização: Lisa Cholodenko
Argumento: Lisa Cholodenko, Stuart Blumberg
Intérpretes: Annette Bening, Julianne Moore, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson, Mark Ruffalo
Música: Carter Burwell, Nathan Larson, Craig Wedren
Fotografia: Igor Jadue-Lillo
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 106 min.
Sítio Oficial: http://filminfocus.com/film/the_kids_are_all_right

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