Joann Sfar: J'aime trop Gainsbourg pour le ramener ao réel. Ce ne sont pas les vérités de Gainsborg qui m'intéressent, ce sont ses mensonges.
Cada vez fico mais maravilhado com as biografias francesas. Além dos óbvios que conquistaram títulos pelo mundo fora como Edith Piaf e Agnés Varda, tivemos em sala um verdadeiramente magnífico trabalho sobre Serge Gainsbourg. Confesso que nunca fui grande ouvinte do músico, desconhecia a carreira do pintor, e da sua vida pessoal apenas tinha uma pequena ideia. Tudo mudou após um inesperado e surpreendente primeiro filme do novelista gráfico Joann Sfar.
Lucien é um pequeno judeu que sempre foi muito imaginativo. Miraculosamente sobrevive à Guerra refugiando-se nos bosques onde entre desenhos e histórias encanta os colegas. A sua principal companhia ao longo da vida é o alter-ego, com um enorme nariz, e esse tem o descaramento que lhe falta. Lucien vai crescer para se tornar um adulto tímido que compõe músicas. Até que muda o nome para Serge, ganha fama, ganha confiança e não ganha juízo. Passam-lhe pelas mãos mulheres cada vez mais jovens e mais famosas, mas ele não sabe quando parar.
Mais do que a história verídica de Lucien Ginzburg/Serge Gainsbourg esta é a história que Gainsbourg escreveria sobre si mesmo. É tão fiel ao homem e longe da realidade que foi o primeiro argumento em 20 anos a ter a aprovação da família e inicialmente seria Charlotte a interpretar o pai. Teria adorado ver essa versão, mas esta mesmo assim é terrivelmente boa. Em primeiro lugar tem dois fenomenais actores como Lucien. O pequeno Kacey Mottet Klein conquista-nos com um retrato ousado da mentalidade do pequeno e Eric Elmosnino leva-nos pela atribulada vida adulta. Dificil indicar qual o melhor. Em segundo os pais dele são interpretados por Razvan Vasilescu e Dinara Drukarova e estão sempre perfeitos. Depois conseguiu o magistral realizador Claude Chabrol para interpretar um produtor musical numa participação de um minuto, e conseguiu o multi-talentoso Doug Jones para vestir a pele de La Gueule, o tal alter-ego sempre-presente. Incrível.
Contudo nos secundários o destaque vai claramente para as mulheres que o rodeiam. Muitas foram as mulheres (Grego, Gall) e muitas actrizes fazem esses pequenos papéis, mas destacaria claramete a falecida Lucy Gordon - como a mulher da sua vida, Jane Birkin - que nos deixou boas memórias neste último papel. Só que o destaque maior tem de ir para Laeticia Casta que foi possuída pelo espírito de Brigitte Bardot interpretando-a melhor do que a própria conseguiria. E além disso presenteia-nos com um delicioso número de dança que tem de ficar para a história do Cinema.
Estamos perante o retrato de um homem que praticou a auto-destruição toda a vida, em especial através do tabaco. Marcou de forma perene as gerações com que se cruzou, reinventou a música em diferentes estilos, revoltou uma nação e mudou a sociedade, algumas vezes para melhor. Tornou-se um símbolo com mérito e agora atinge a imortalidade da tela que tinha falhado como actor. Tudo isso ao som de músicas compostas pelo próprio. Não podia ser melhor.
Título Original: "Gainsbourg (Vie héroïque)" (França, 2010) Realização: Joann Sfar Argumento: Joann Sfar Intérpretes: Eric Elmosnino, Lucy Gordon, Laetitia Casta, Doug Jones Música: Olivier Daviaud Fotografia: Guillaume Schiffman Género: Biografia, Drama, Fantasia Duração: 130 min. Sítio Oficial: http://www.gainsbourg-lefilm.com/ |
0 comentários:
Enviar um comentário