28 de maio de 2011

"Husbands and Wives" por Nuno Reis

Quando o filme começa com um anúncio de divórcio pode parecer um regresso de Allen à comédia, no entanto apesar de ter uns traços de comédia é dos filmes mais sérios que jamais fez. Transcreveu para "Husbands and Wives" algumas das próprias discussões conjugais e entre a rodagem e a estreia terminou a relação com Mia Farrow que depois de treze filmes não voltou a trabalhar com ele. Isso foi uma excelente publicidade para o filme que estreou em quase 900 cinemas batendo todos os recordes do realizador de salas e de melhor primeiro fim-de-semana de bilheteira (no total ficou-se pelos 10 milhões).
Tecnicamente também marcou um ponto de viragem pois marcou a diferença desde a abertura onde filmou uma televisão. Câmara ao ombro, cenas cortadas quase ao calhas e uma tentativa de filmar em 16mm (foi obrigado a usar 35mm) foram esforçar arrojados para parecer documental. Só que ao contrário dos mockumentaries que fez anteriormente este tinha demasiada história.
Husbands and Wives

Jack (Sydney Pollack) e Sally (Judy Davis) são o casal que anuncia o divórcio. Gabe (Allen) e Judy (Farrow) são o casal amigo que fica a pensar na notícia. Enquanto a crise de meia-idade de Jack lhe arranja uma namorada muito mais jovem (Lysette Anthony), Sally começa a criar laços com um colega (Liam Neeson) que podem levar a uma relação mais séria. Judy e Gabe começam a pensar na volatilidade das relações e a repensar a própria. Gabe começa a sentir-se atraído por uma jovem aluna (Juliette Lewis) que se orgulha de ser uma dor-de-cabeça para todos os homens.
Husbands and Wives

"Husbands and Wives" é um retrato das relações quando esmorecem. Umas terminam, outras caminham para isso. O diálogo e as escapadelas (pensadas ou executadas) fazem parte da realidade e é disso que aqui se fala. Allen tem uma performance genial, assim como Judy Davis. Quanto a Lewis tem uma personagem complexa e de quem é fácil não gostar. Contrasta com a anterior Lolita, a dócil Tracy de "Manhattan", e tem um pouco da crueldade da invulgar femme fatale Tina Vitale ("Broadway Danny Rose"), mostrando que todos os grandes filmes de Allen são peças de uma gigantesca história da vida, da humanidade e da sociedade, que ninguém consegue explicar em duas horas, mas ele consegue resumir em quarenta anos de carreira.
Husbands and Wives

Não é um filme para todos os públicos, mas é daqueles que se gostará mais com a idade à medida que se passa por situações idênticas e se compreende as personagens que Allen como é habitual tornou demasiado reais. Como diz Sally "It's the Second Law of Thermodynamics: sooner or later everything turns to shit.". É assim a vida e isso está aqui muito bem retratado.


A nota é provisória, sei que vou aprender a gostar do filme.
Husbands and WivesTítulo Original: "Husbands and Wives" (EUA, 1992)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Judy Davis, Sydney Pollack, Woody Allen, Mia Farrow, Juliette Lewis
Fotografia: Carlo Di Palma
Género: Drama, Romance
Duração: 108 min.

2 comentários:

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Hahahaha, embora você não tenha gostado muuuuito do filme, o valor necessário a ele aqui está. Adoro Maridos e Esposas. Mas é um filme que a gente precisa rever e rever pra saborear melhor e gostar mesmo...

Nuno disse...

Sete comentários de uma vez Luiz?! Quando acabar esta maratona vou-me sentar para rever alguns que gostei menos, agora sem a pressão da obrigação de escrever. Pode ser que mudando a persepectiva goste mais.