"He is always very depressed. You know, he never made the 'ten most wanted' list. It's very unfair voting, it's who you know."
Aqui tem início toda uma nova fase de Woody Allen. Fazendo o filme para si mesmo, sendo argumentista, realizador e protagonista, reinventou o mockumentary. Foi a primeira vez que um falso documentário conseguiu atingir um público alargado e ter sucesso comercial. E foi assim que o mundo descobriu que aquele baixote com piada dos outros filmes era um bom actor e podia aguentar o filme sozinho.
Allen é Virgil Starkwell, um jovem criminoso de pouco sucesso. O filme de estilo documental vai acompanhar Virgil desde o nascimento até à prisão perpétua. Mostra os problemas por que passou, apresenta os pais e alguns dos formadores que se cruzaram com ele. Como enveredou pela carreira criminal por não ter jeito para mais nada e como nem a fazer o mal conseguia ser bom. O elenco do filme é completado com Janet Margolin que faz de Louise, a sua esposa dedicada que lhe perdoa todos os crimes e espera pelo final de todas as penas.
A estreia de Allen na realização começou muito bem. O formato de documentário faz com que as cenas cómicas funcionem isoladas. Quando a cena não pode ter mais piada, volta ao entrevistador que através de um convidado vai recordar outro momento da vida de Virgil. Esta maximização do humor e a criatividade da história tão próxima do film noir, fazem com que o filme tenha sucesso a todos os níveis. Na faceta profissional, Virgil é o mais inapto assaltante da História, mas também o mais divertido. Nas cenas românticas e domésticas, o seu sofrimento é hilariante e a sub-aproveitada Margolin tem sempre a expressão certa.
Esta pérola de início de carreira é tão despojada de artifícios que explica como pode Allen preferir filmes simples e sem adereços até aos dias de hoje. Se o objectivo é fazer um filme cómico o que é preciso são piadas. Diálogos e situações é tudo o que se deve usar. Seja a abertura a tocar violoncelo na marcha, ou o gag recorrente de calcar os óculos característicos, isto é um filme para ver pelo humor puro e nada mais. O que tinha de estar lá está e o filme é inesquecível por isso. A carreira como realizador de dramas e com artifícios ainda não é nesta fase.
Título Original: "Take the money and Run" (EUA, 1969) Realização: Woody Allen Argumento: Woody Allem Mickey Rose Intérpretes: Woody Allen, Janet Margolin Música: Marvin Hamlisch Fotografia: Lester Shorr Género: Comédia, Crime, Drama Duração: 85 min. |
2 comentários:
Adoro o facto de teres feito uma review deste filme :D Woody Allen é fantástico e está tão jovem nesse filme, que até mete um bocado de impressão ahah. É, como bem dizes, uma pérola de início de carreira. Parabéns pelo texto.
Sarah
http://depoisdocinema.blogspot.com
Muito bom texto/review sobre este "O Inimigo Público".
Já não o vejo há décadas talvez (a sério) mas recordo-me que me parti todo a rir com o filme. É hilariante e nunca mais esqueci a cena do escape da prissão com a personagem de Woody Allen sempre a apontar uma arma... feita de sabão preto! E depois chove (ou algo assim) e.... olha, é louco, louco, louco!
Um dos filmes que me ficou na memória para sempre (e que até deveria rever para saber se as memórias do passado ficam destruidas com um revisionamente e se ainda está á altura do culto que lhe dediquei mentalmente).
Mas pela tua review... não tenho já dúvidas que mantém-se.
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